O Tao do Brasil

O Tao é o caminho, o caminhante e o caminhar

Um valor intrínseco do Taoísmo é o Wu Wei 無爲, traduzido vulgarmente como não-ação, trata-se da busca de um tipo de alinhamento com fluxos de força em um determinado contexto que permite ao caminhante mover-se com máxima eficácia e com mínimo gasto energético.

Quando o caminho impulsiona o caminhante, ambos tornam-se um, e o caminhar suave, profundo e eficiente.

Filosofia com estética, palavras bonitas. Mas me recordo de um outro ditado taoísta: “Falar não cozinha o arroz” que nos lembra sempre que o Wuwei é sim, um tipo de ação. O agir é imprescindível e inevitável, e é melhor que ele seja eficaz.

Partindo para a ação: A primeira aplicação do alinhamento de fluxos é o tal modelo de “Fazer o ser humano seguir o fluxo das estações”. Muito se fala em se conectar com a natureza, mas para o Tao, se o seu corpo já não sente o que as mudanças das incidências de luz, sombra e temperatura induzidas pelo sol e pela lua incitam no interior de suas células, é sinal que o básico da conexão ainda não está estabelecido. (Veja uma nova visão da ciência sobre este tópico)

publicamos texto sobre este tema no inverno, e sinto que agora nos cabe publicar outro na chegada do verão.

Sim, para os Taoistas já estamos no verão (sinto, mas neste texto não há espaço para explicar o motivo)

Mais precisamente, estamos na passagem da primavera para o verão. E então, se no inverno a condição solar (inclinação do sol, luminosidade, relação de tempo entre luz e sombra e temperatura) instiga a natureza, sua fauna, sua flora e seus humanos a dormir, a se recolher, a repousar, e a curtir o silêncio, a chegada da primavera instiga a natureza a fazer outra coisa: despertar um novo ciclo, cujo símbolo máximo no reino vegetal é a chegada do trovão e o plantio da semente, e o equivalente no reino humano eram os antigos rituais de fertilidade, dos quais o carnaval brasileiro é um resquício protoritualístico.

Assim, a natureza sai do frio, do gelo e da caverna, para voltar a se relacionar, se comunicar, fazer novos planos e absorver novos ares para a vida. E o clímax deste movimento Yang (Masculino, exteriorizante) é sentido no verão. No reino vegetal, a maturidade chega, no reino dos seres humanos, a abundância de contato, o mostrar-se, o estar em interação com pessoas e o apaixonar-se. O famoso amor de verão. Mais ainda, na dimensão da eficácia, trata-se de conduzir as coisas à sua maturidade para poder colher sua abundância no ciclo seguinte.

Em termos de ação, o caminho enfrenta um problema de tamanho considerável no Brasil. Pois, quando a natureza dispõe a nós humanos uma qualidade de força vital que instiga a criação e a ação para a maturidade das coisas, as pessoas por aqui já começam a falar:

Ih! Mas agora o ano já acabou! Depois do carnaval eu volto, quem sabe!

Infelizmente, no carnaval, é um momento onde a intensidade da excitação da natureza já está em retração, e se de fato resolvessemos segui-la não seria o momento mais adequado para um clímax coletivo.

Aqui vai um conselho do caminho para nós, os Brasileiros. Um povo com muito coração, afeto, alegria, mas com pouca noção de eficácia. Se você quer realmente aplicar em sua vida os princípios do Tao que podem mudá-la, e sair da superficialidade do discurso, podemos começar tentando quebrar com esta cultura de final de ano quando a natureza dispõe sua energia para criação e maturidade de suas ações.

Ao invés de: Volto ano que vem pois agora já acabou, escolha e multiplique o bom e velho: Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje, pois hoje, o ciclo solar está a favor do crescimento, e depois, nem tanto.

 

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